Havia encontrado este excelente texto, que debate as divisões por eras nas Hqs, tema bastante controverso e que ajuda a entender o signifacado destas. e a forma atual das comics neste contesto. No entanto, fui induzido ao erro de não citar a fonte original deste texto, o blog que encontrei primeiramente não citava autor e nem da onde havia encontrado.
Mas felizmente, o próprio autor acabou nos alertando desta falha e pedimos mil desculpas por não haver dado o devido mérito e registro autoral. Mais uma vez peço desculpas ao Marcus e o pessoal do Universo HQ, e aproveito a oportunidade para recomendar a leitura deste belo artigo e visitem regularmente o Universo HQ para se manter atualizado nas últimas das HQs.
Por Marcus Ramone
Nos últimos anos, muito se leu e ouviu sobre o revival das editoras Marvel e DC às Eras de Ouro e de Prata dos quadrinhos, em histórias que mostravam a volta de personagens há décadas esquecidos ou aventuras cujos elementos cronológicos e conceituais remetiam àquelas épocas.
Seja pela necessidade de situar os quadrinhos e suas tendências em determinado intervalo de tempo e contextualizá-los em algum período histórico, ou apenas para apontar marcos a partir dos quais mudaram-se as formas de se contar histórias nos gibis, separar a arte seqüencial em eras é uma das máximas seguidas por qualquer fã de HQs.
Embora comumente não se discuta os títulos das eras de ouro, prata e bronze, bem como os eventos que marcaram suas transições, há controvérsias sobre o que veio depois, a ponto de ficar a dúvida: a época atual é chamada de ferro ou moderna?
Nenhuma das duas opções é a correta. Do que poucos se deram conta é que os quadrinhos acabaram de dar adeus a essa fase e entraram em outra que promete não dar margem a questionamentos, pelo menos quanto ao nome: a Era Pós-Moderna.
É o que afirma o jornalista norte-americano Shawn O'Rourke, em artigo publicado recentemente na revista eletrônica PopMatters. Para ele, as minisséries Crise Infinita (DC) e Guerra Civil (Marvel), lançadas nos Estados Unidos entre os anos 2005 e 2007 - no Brasil, foram publicadas no ano passado, pela Panini Comics -, marcaram essa transição, cujos primeiros alertas já se pronunciavam há pelo menos duas décadas.
Para O'Rourke, o estopim foi exatamente o início do que ele agora aponta como a era anterior, referindo-se à publicação de Watchmen e O Caveleiro das Trevas, obras que mudaram o conceito dos quadrinhos de super-heróis ao mandar às favas o maniqueísmo tradicionalmente bem delineado nesse gênero de HQ e quebrando outros paradigmas a ele relacionados.
Na época, as duas minisséries apresentaram idéias alheias ao que era publicado mensalmente nos títulos de linha das editoras de super-heróis, vivendo à parte da continuidade normal. Ou seja, apesar de ditarem "regras" que, atualmente, parecem já incorporadas, Watchmen e O Cavaleiro das Trevas, lançados em 1985 e 1986, respectivamente, esperaram quase dez anos para ver seus efeitos - alguns deles identificados por muitos leitores como a transformação do herói Lanterna Verde Hal Jordan no vilão Parallax e a proliferação dos anti-heróis.
Essa é uma incoerência apontada por O'Rourke para o fato de essas duas publicações serem aceitas como marcos de uma era.
Por outro lado, de acordo com o articulista, Crise Infinita e Guerra Civil redefiniram instantaneamente e de forma mais drástica o universo dos super-heróis, descontinuando o que estava há muito tempo estabelecido e incorporando essas mudanças no curso de seus títulos de linha.
"As duas companhias criaram histórias com ramificações espetaculares que influenciaram a maioria de suas revistas em quadrinhos de modo significante", escreveu O'Rourke.
O que as editoras Marvel e DC fizeram, entretanto, foi nada mais do que apagar aquilo que elas próprias ajudaram a construir durante décadas: ícones da moral cujos princípios estavam acima dos valores mesquinhos do ser humano comum e serviam de exemplos, muitas vezes, na formação de caráter dos leitores.
Pode parecer algo um tanto piegas e "fora de moda", mas funcionava. E é esse argumento que O'Rourke não explora em seu artigo, ao mesmo tempo em que indica que a nova ordem veio para ficar.
"A nova raça de heróis está sujeita às mesmas dúvidas, medos e ambigüidades moralistas que a pessoa comum é forçada a confrontar. Eles não são mais deuses que vivem entre nós; eles agora são bem mais reais", vaticinou o articulista.
Mas o que se vê, atualmente, não é tão simples assim. Heróis tornam-se vilões (de fato ou dissimulados) ou absurdamente tão humanos que são exemplos de como é a realidade, e não de como ela deveria ser - a tal válvula de escape do mundo real. Resta saber se é isso mesmo que, a londo prazo, os leitores querem encontrar nessas histórias.
Um bom indicativo da decantada nova era também pode ser encontrado fora das duas editoras dos Estados Unidos. Nas aventuras de Spawn, criação de Todd McFarlane para a Image Comics, o personagem extrapolou seu próprio conceito de anti-herói.
A origem de Spawn carrega a história de um assassino a serviço da CIA. Em suas HQs, o contraponto de suas ações criminosas do passado e a condição de criatura do Inferno era a real busca por redenção. Nos dois últimos anos, entretanto, por meio de retcons (elementos retroativamente adicionados à continuidade), descobriu-se que Al Simmons - alter ego do personagem - espancava a ex-mulher, foi responsável pela morte do filho ainda na barriga da mãe e matou a sangue-frio uma pessoa na adolescência.
Assim, da mesma forma que personagens como o agora mau-caráter Homem de Ferro e o psicopata Superboy Primordial ganharam a antipatia de muitos leitores em Guerra Civil e Crise Infinita, o atormentado Spawn entrou nessa incômoda lista.
Há quem argumente que as transformações da sociedade são os principais motivos das mudanças de abordagem das histórias de super-heróis. Se assim for, o mundo anda realmente muito assustador.
Em toda essa discussão fica clara a imposição dos quadrinhos de super-heróis nos ditames de influências e marcos de eras. Entretanto, como sobriamente destaca o Dr. Peter Coogan em seu livro The Secret Origin of the Superhero: The Emergence of the Superhero Genre in America from Daniel Boone to Batman (A Origem Secreta do Super-herói: O Surgimento do Gênero Super-herói na América, de Daniel Boone a Batman), lançado em 2002 nos Estados Unidos, apenas a Era de Ouro pode ser aplicada aos quadrinhos em geral, pois todas as outras se referem exclusivamente às HQs de heróis fantasiados.
Então, nada mais justo que incluir os quadrinhos infantis na Era Pós-Moderna. E para buscar exemplos da humanização dos personagens e sua aproximação com o cotidiano dos leitores mirins, não é preciso ir muito longe.
Afinal, no Brasil, o primeiro sutiã e outros assuntos antes considerados tabus em gibis para crianças eram abordados com freqüência nos recém-cancelados gibis Menino Maluquinho e Julieta.
Na Turma da Mônica, desde muito antes de qualquer suposta influência das infinitas crises e guerras civis dos super-heróis, são produzidas histórias sobre pais separados, conflitos de gerações e até mesmo escatologia moderada.
Como um sinal dos novos tempos, no ano passado os leitores dos personagens de Mauricio de Sousa foram surpreendidos e se divertiram com uma aventura em que Magali se dava conta de que o gato Mingau andava, segundo suas próprias palavras, "com o fiofó à mostra" - o animal ainda teimava em exibir essa particularidade anatômica, sem pudor, em destaque no quadro.
Ainda na década passada, na Saga do Tio Patinhas, o velho pato da Disney protagonizou um épico em que o drama familiar foi o pano de fundo e sentimentos humanos como remorso e egoísmo envolveram os personagens sem nenhum teor caricato.
Na premiada minissérie escrita e desenhada por Keno Don Rosa, Tio Patinhas vai à berlinda com os leitores na polêmica passagem em que, graças a sua ambição sem limites, é responsável pela destruição de uma aldeia na África, fato que, anos depois, é lembrado e desaprovado por sua irmã em um emocionante diálogo, na impressionante história Uma carta de casa.
Fonte: Universo HQ
sexta-feira
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Um comentário:
Olá! Esse texto foi escrito por mim e publicado no Universo HQ, do qual sou editor. Eis o link: http://www.universohq.com/quadrinhos/2008/n14052008_06.cfm.
Esse site que você citou copiou descaradamente meu artigo e não colocou nem meu nome nem o do Universo HQ.
já estamos tomando as providências quanto a isso.
Marcus Ramone
www.universohq.com
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